Reterritorialização em pequenas cidades universitárias no Nordeste brasileiro: reflexões a partir da Praça do Obelisco em Redenção, Ceará
DOI:
https://doi.org/10.20435/inter.v23i3.3509Palavras-chave:
juventudes universitárias, ocupações criativas, reterritorialização, espaços públicos urbanosResumo
Os primeiros 15 anos do século XX presenciaram uma intensa expansão das instituições de educação superior no Brasil, particularmente no interior do país, com pequenas cidades passando a sediar, especialmente, universidades e institutos federais. Esse movimento tem gerado amplas repercussões urbanas, impactando as estruturas, o cotidiano e as dinâmicas de produção social do espaço urbano, com a presença de juventudes estudantis, atingindo particularmente os espaços públicos urbanos. No interior do estado do Ceará, no Nordeste brasileiro, a presença de uma universidade federal pública interiorizada e internacionalizada, com mais de cinco mil estudantes de graduação, sendo aproximadamente 25% migrantes internacionais, impacta duas pequenas cidades – Redenção e Acarape. Nesse sentido, este artigo analisa as dinâmicas territoriais na cidade de Redenção, com foco na Praça do Obelisco, envolvendo juventudes universitárias emergentes e a população local já anteriormente residente, entre o segundo semestre de 2017 e fevereiro de 2020. Metodologicamente, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa de caráter etnográfico, acionando também a busca por dados secundários, entrevistas com duas moradoras originárias e estudantes universitárias da UNILAB. A análise revela novas dinâmicas territoriais, por meio das ocupações criativas realizadas pelas juventudes universitárias, e, mais do que isso, a emergência dessas juventudes enquanto agentes políticos e urbanos significativos. Além do mais, os micro, nanoconflitos e lutas que atravessam a praça, assumindo formas urbanas e adquirindo caráter político, evidenciam desigualdades, segregações e estruturas potencialmente normalizadas e invisibilizadas, que estão a ser contestadas socialmente por esses agentes emergentes.
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