Cidade-balneário e os sujeitos da expansão e verticalização urbana: o protagonismo invisibilizado dos trabalhadores da construção civil de Matinhos, Paraná, entre os anos 1980 e 2000

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/inter.v23i2.2974

Palavras-chave:

Cidades-Balneário, Trabalhadores da Construção Civil, Turismo, Migração, Litoral do Paraná - Brasil

Resumo

O texto comunica resultados de uma pesquisa com trabalhadores da construção civil que migraram entre os anos 1980 e 2000 para o município de Matinhos, tradicional reduto balneário do Paraná. Esses sujeitos atuaram em canteiros de obras, estabeleceram-se em definitivo na região e reconstruíram suas vidas vinculadas à dinâmica da cidade e sua formação socioespacial. Os objetivos do estudo foram assim constituídos: i) identificar aspectos da origem e trajetória dos trabalhadores da construção civil em Matinhos; ii) analisar sua adaptação, inserção social, formas de lazer e relações no âmbito do trabalho; e iii) refletir acerca da dinâmica da identidade e dos aspectos culturais experimentados por esses trabalhadores. A metodologia utilizada foi uma abordagem qualitativa com delineamento de estudo de caso, utilizando-se, para a coleta de dados, entrevistas semiestruturadas. Os resultados permitiram conhecer aspectos do processo de migração vivenciado por dez jovens trabalhadores com origens em áreas rurais de diversas regiões do Paraná. Inicialmente inseridos em contextos de fragilidade socioeconômica, apostaram na migração para ascensão social, fixando-se no litoral do Paraná a partir de oportunidades no setor da construção civil, na época com ritmo acelerado, pois acompanhava a verticalização urbana, impulsionada por edificações de segunda residência de uso predominantemente balneário. A inserção laboral nos canteiros de obras se deu na condição popularmente denominada como “oreia seca”, base da hierarquia das funções, equivalente ao servente de obras. O ambiente do trabalho e as moradias, não raro alojamentos, assim como as redes sociais de apoio, constituíram importantes referências microterritoriais, bases iniciais para uma gradativa inserção local, pois oportunizavam acolhimento e apoio para recriação de laços e sociabilidades. Os entrevistados relataram ascensão social e profissional concomitante ao desenvolvimento balneário; constituíram-se com suas famílias no município, deixando transparecer orgulho e satisfação por essas escolhas.

Biografia do Autor

Marcos Luiz Filippim, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Doutor em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR); Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Licenciado em História pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). Professor do Curso de Tecnologia em Gestão de Turismo na UFPR, Setor Litoral.

Marcelo Chemin, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Doutor em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Professor do Curso de Tecnologia em Gestão de Turismo na UFPR, Setor Litoral. Professor permanente do Programa de Pós-graduação em Turismo (PPGTUR) da UFPR – Mestrado acadêmico.

Daniele de Castro Gonçalves de Andrade, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Mestranda em Desenvolvimento Territorial Sustentável pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Setor Litoral. Graduada em Gestão de Turismo pela UFPR, Setor Litoral.

Felipe Ganancin Piola, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Mestrando em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduado em Gestão de Turismo pela UFPR, Setor Litoral.

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Publicado

2022-08-03

Como Citar

Filippim, M. L., Chemin, M., Andrade, D. de C. G. de, & Piola, F. G. (2022). Cidade-balneário e os sujeitos da expansão e verticalização urbana: o protagonismo invisibilizado dos trabalhadores da construção civil de Matinhos, Paraná, entre os anos 1980 e 2000. Interações (Campo Grande), 23(2), 331–346. https://doi.org/10.20435/inter.v23i2.2974