Processo de (des)territorialidade em uma comunidade rural na Bahia
DOI:
https://doi.org/10.20435/inter.v22i1.2347Palavras-chave:
desenraizamento, identidade, território.Resumo
A globalização do meio rural ocorre paralelamente ao processo de desterritorialização, gradativo, intenso e generalizado, despertando reflexões sobre os temas identidade e território. Este estudo visa descrever como uma empresa fumageira influenciou na perda de identidade sociocultural da Comunidade Rural de Laranjeiras, Muritiba (BA), mediante processos de desterritorialização. Os dados foram coletados e descritos a partir da observação aberta, com uso de entrevista não estruturada, marcada por conversas informais. A presença da empresa desencadeou intenso processo de “des-pertencimento”/desenraizamento familiar, provocando perda de identidade sociocultural e costumes, além da consequente redução de espaço físico da comunidade. Foi destacada a crescente insalubridade local pelo aumento de materiais particulados, intenso tráfego de veículos e o odor característico de insumos químicos na monocultura do fumo. Ainda assim, a comunidade parece acreditar que a indústria é “um mal necessário”, pois oferece emprego à maioria da comunidade. Verificou-se, também, o êxodo dos jovens, que se deslocaram em busca de melhores salários e enfrentaram o processo de desenraizamento. Outra problemática vivenciada pela comunidade é o aparecimento de doenças atribuídas ao uso indiscriminado de agrotóxicos na lavoura do fumo, por ação da empresa. É possível concluir que a comunidade em questão vivencia desenraizamento e desterritorialização sociocultural e econômica, associados à expropriação de direitos e costumes tradicionais, inseridos no processo de globalização do meio rural.
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